30 abril, 2006
Quem o senhor acredita ter sido importante em sua trajetória no teatro nacional?
Se eu fosse agradecer por este momento tão especial em minha vida, eu teria que agradecer ao patrocínio, da "De A a Z Roupas", "N Recanto de Velhinhos", "XYZ Maquiagens de Ponta", "G Aços", "AF Perfumes da Vida", "CQ Restaurantes Vegetarianos", o Senhor Godofreudo, meu irmão, meu tio que está aqui presente e a toda lista apoiadores e patrocinadores que de alguma forma apoiaram e me deram a oportunidade de realizar todas as peças de teatro que fiz e olha que não foram poucas.

O que o senhor sentiu ao receber o grande prêmio de dramaturgia brasileira?
Antes de qualquer coisa , eu gostaria de dizer que se não fosse o patrocínio da "Reason Editoras e Papelarias", "Restaurante Dante", foi muito excitante.

Qual é o próximo trabalho?
Estive conversando com a empresa de calçados que se ofereceu para patrocinar a próxima peça, e assim que eu fechar o contrato, aí sim é outra coisa, estou pensando em uma peça sobre o cotidiano nacional.

Da ficção a realidade, quais são as partes importantes para se fazer um bom trabalho ou uma boa peça teatral?
Resposta de quem vos escreve:
Dramaturgia de qualidade, um excelente diretor, ótimos atores, e uma série de profissionais que trabalham dia e noite para que a peça de fato possa entrar em cartaz.
Dentre eles o produtor tem função específica de controlar as coisas que acontecem para não atrapalhar o desenvolvimento do diretor e dos atores. Função, esta, nada fácil. Correr atrás de tudo que falta para que a produção saia como planejada dentro do projeto, noites em claro, dias que passam voando, almoços trocados por janta, gastrite nervosa, quilos a mais e a menos, esta é uma parte do que se passa com os produtores. Mas é a função que lhe cabe, é a função que ele se propôs a realizar e muitas vezes aqueles que se dedicam com amor e comprometimento, palavra que ainda é a mais importante para mim, conseguem realizar com sucesso.
Patrocinadores e apoiadores são importantes?
Sim, muito importante diria importantíssimos, no entanto não mais importante que o texto, que a estética do diretor, e que o trabalho dos atores, dos maquiadores, dos operadores de som e luz , do faxineiro e do bilheteiro. Cada um é uma peça para formar A Peça.

Trabalhar no teatro é sonho?
É profissão e sonhada.

Por tanto:
Quem você acha ser importante na sua trajetória na sua trajetória de vida no teatro nacional?

Todas as peças importantes dentro da PEÇA, desde o dramaturgo ao bilheteiro, sem demagogia.

O que você sente ao ver um trabalho sendo realizado?
Satisfação e agradecimento a todos os envolvidos no trabalho.

Qual é o seu próximo trabalho?
Como sou dramaturgo, escrever a próxima peça com todo respeito, comprometimento e prazer que tenho em trabalhar com esta arte.
Como sou diretor, me entregar intelectualmente por completo ao próximo trabalho.
Como sou ator, me doar de corpo e alma ao próximo personagem e trabalho.
Como bilheteiro, atender da melhor maneira as pessoas e desempenhar com o maior sorriso no rosto a minha função.

Sem dinheiro não existe trabalho e sem trabalho não existe dinheiro isso deveria ser a premissa.
Não comentei nada sobre a função do Estado. Sobre isso, cada um de nós que trabalha com arte sabe qual é.


Claudio Rosa

kklaudio8@hotmail.com
 
posted by Claudio Rosa at 15:08 |
23 abril, 2006

“Há sim uma grande preocupação minha em tocar o que não é normalmente tocado nas pessoas. Um lado mais sutil do entendimento das condições humanas. (...)”



SuperNova - Vamos começar já chutando a porta. Por que o teatro?

Alissandra Rocha - Bem, acredito que o teatro é a maneira que eu encontrei onde posso expressar na total plenitude as minhas idéias. Acredito que escrevendo posso tornar objetivo meu universo subjetivo. Dirigindo atores posso trazer o subjetivo deles a tona, e atuando consigo fazer valer o subjetivo de outra pessoa (do dramaturgo), acredito que nas outras artes (música, plásticas), eu talvez não alcançaria essa plenitude.

SuperNova - Você vem de uma família de músicos não é verdade? Como foi este afastamento da arte da família para o teatro?

Alissandra Rocha - Bem, na verdade minha família tem raízes no circo. Minha avó Alair Rocha tem uma vasta história no circo brasileiro. Acho que minha fonte de memórias artísticas está nesta parte da família. Minha irmã é musicista e desde pequena tenho contato com as dores e as delícias de ser artista. Quando pequena eu também fiz aulas de piano para agradar esse lado musical da família, mas não pode ter agrado melhor para os Rocha do que a escolha que fiz.

SuperNova - Quais foram os artistas que lhe influenciaram e influenciam nas suas escolhas como artista?

Alissandra Rocha - Bem, essa pergunta é muito relativa. Em cada momento da minha vida houve uma descoberta de grandes seres humanos que deixaram coisas inspiradoras. Posso dizer que hoje carrego comigo alguns ensinamentos de alguns deles, "artistas" ou não. De Peter Brook e Antonio Januzelli ( Janô ) a direção consciente. De Beckett, Tennessee Williams a dramaturgia cuidadosa. Fora muitos e muito teóricos que carrego debaixo do braço. Mas direção consciente e dramaturgia cuidadosa, isso é que me interessa no que foi deixado...

SuperNova - Como foi a sua integração e participação na criação do SuperNova Coletivo de Dramaturgos?

Alissandra Rocha - Eu conheci o conceito antes mesmo de ser SuperNova. Algumas pessoas estavam reunidas no ORKUT através de uma comunidade sobre autores de teatro. Comecei a me interessar pela discussão de uma preocupação com a qualidade da dramaturgia criada hoje em dia, e vi que as pessoas iam se encontrar para formar um núcleo de estudos. Também fui e me identifiquei de cara com a proposta de profissionalização do dramaturgo. Como diretora estava acomodada no fato de montar bons textos de Shakespeare, Moliére, Tennessee Williams, Beckett, mas como dramaturga sentia falta de aprimoramento e domínio de técnicas. Então depois de algumas reuniões solidificamos o SuperNova como um grupo de estudos e aperfeiçoamento.

SuperNova - Você está dirigindo a peça “Da Criação da Cena”. Como é a experiência de direção agora dentro do processo do SuperNova?

Alissandra Rocha - O Coletivo tem uma estrutura muito bem fundamentada. A realização de um espetáculo só deve existir depois da construção de uma base em que o espetáculo se sustente. Isso casa com o ideal de disciplina que eu tenho no teatro. Tenho o prazer de estar totalmente envolvida com todos os processos desta montagem. Além da direção deste espetáculo, participo também, pela primeira vez, da produção. Isso está me dando uma vivência global do fazer Teatral.

SuperNova - O que você pode nos dizer sobre a sua peça Eterno Ato de Sempre Ir, que faz parte desta primeira colheita do SuperNova?

Alissandra Rocha - Posso dizer que essa peça só existe em conseqüência da minha participação no SuperNova. Eu comecei a escrevê-la em 2000 na faculdade, quando tive que fazer um trabalho para a matéria “Fundamentos da Comunicação Humana”. Para o momento serviu aos propósitos ilustrativos do trabalho. Mas quando decidi retomar esse texto fui notando a necessidade de transformar o conhecimento que eu tinha, vindo apenas da observação, em algo que eu pudesse dominar e ter consciência do que estava fazendo. Por isso o texto tal como ele é hoje só existe por causa dos avanços que fizemos nos trabalhos do SuperNova.

SuperNova - Como você vê atualmente o Teatro no país?

Alissandra Rocha - Essa pergunta é extremamente difícil posto que estamos falando de um país imenso com multiplicidades culturais. O que posso dizer sobre o que vejo é que estamos há muito tempo neste movimento de achar saídas inusitadas em situações de extrema dificuldade. A falta de uma política cultural decente nos obriga muitas vezes a mostrar um produto mal acabado e de baixa qualidade. Mas algo nisso tudo me anima. Percebo que aqueles grupos que se mantêm fiéis ao seu ideal de qualidade e profissionalismo sempre conseguem achar um respiro e continuar seu desenvolvimento.

SuperNova - E a dramaturgia, especificamente, você acha que passa pelo mesmo processo?

Alissandra Rocha - Existe algo no teatro há uns bons anos que se chama “processo colaborativo”. Algo que o grupo Vertigem desenvolve com extrema qualidade e brilhantismo. Eu também trabalhei um bom tempo na universidade com esse processo. Mas infelizmente, acredito que são raros os grupos que conseguem desenvolver boa dramaturgia com esse processo. Às vezes vira um pastiche de idéias, algo que agrada apenas quem esteve participando do processo. Acontece algo que não é verdadeiramente teatral. Não há nada que possa realmente ser aproveitado dessa dramaturgia Frankenstein.

SuperNova - Mas e a dramaturgia autoral? Está esquecida e negligenciada? É isso?

Alissandra Rocha - Bem, hoje o que vemos é peça de diretor, certo? Ele escreve, ele corta, ele adapta... Talvez esteja sim faltando alguma qualidade na dramaturgia autoral atual.

SuperNova - Falando em autoral, quais são as suas vontades autorais enquanto dramaturga? O que Alissandra Rocha deseja dizer com suas peças?

Alissandra Rocha - Como eu disse anteriormente a necessidade da dramaturgia no meu trabalho é trazer meu universo subjetivo a tona. Eu tenho um mundo de coisas que gostaria de externar, mas tenho que encontrar a melhor forma de apresentá-las. Então não é só a busca de uma "história" interessante para contar, é achar a melhor forma de tornar isso vivo e vibrante aos olhos de todos.

SuperNova - Você enquadra a sua dramaturgia em alguma escola estética ou gênero?

Alissandra Rocha - Não sei ainda. Há sim uma grande preocupação minha em tocar o que não é normalmente tocado nas pessoas. Um lado mais sutil do entendimento das condições humanas. Algo onírico e metafórico. Talvez isso eu tenha o cuidado de preservar nos meus textos.

SuperNova - E no momento está escrevendo algo?

Alissandra Rocha - Sim. Estou no início de um processo de estudo com o SuperNova. Vou tentar trabalhar com o conceito do homem diante de algo maior que ele, o destino.


Alissandra Rocha é atriz, diretora e dramaturga. Seus Blogs:
Espaço Sideral
Zen Tá Bem!

 
posted by SuperNova at 22:56 |
16 abril, 2006
Você não pode solucionar a vida. A vida não tem solução. A gente encontra soluções dramáticas (cênicas) e põe fim à peça. Você não precisa consertar o planeta.

Dentro da dramaturgia, sempre foi levantada a questão do quanto o mithos, a essência arquetípica de uma narrativa, está presente no instante da criação cênica.
Uma visão do que constrói o texto dramático é aquela que entrevi com duas figuras com que tive o prazer de Dramaturgar: José Rubens Siqueira e Gabriela Rabelo. Zé e Gabi, como acabamos chamando-os após cessadas as formalidades da relação aprendiz/mestre, reviravam o texto do palco com os olhos de quem vê uma paisagem e a coloca em um quadro. Há mil maneiras de se fazer isso, mas o mais importante é que aquele que fitar o quadro deve sentir o mesmo impulso de quem transformou paisagem em tela.
O mito, segundo as milhares de discussões acerca do assunto, não é pensado, não surge do exercício racional, e nem precisa disto.
E antes que alguém julgue se isto é poesia, eu afirmo: É, e no seu mais alto grau. A arte dramatúrgica existe graças à poesia, e se o canto das musas a cada um surge de uma forma diferente, ela não deve ser refreada por nada até que se complete e interiorize.
Comecemos com a palavra. Esta é fruto de uma cultura, e em seus diversos graus de entendimento, como linguagem, signo, expressão, idioma, código ou nome, carrega por si só um enorme peso, e aquele que joga e brinca com a palavra em seus diversos ângulos, ou mesmo aquele que as despeja sem contenção sobre o papel, já obtém sem esforço um calhamaço de significados e significantes suficientes para que surja, repentino e sem avisos, a face do universo interno da criação.
As diversas culturas criaram necessidades estruturais específicas conforme aquilo que seus idiomas melhor expressam. As línguas saxãs possuem predominantemente narrativas onde a repetição temática de uma idéia a reforça. As línguas greco-latinas caminham essencialmente em uma trilha obscura, onde cada passo o leva a um destino invisível na névoa, até que abruptamente este revela-se. As línguas indo-mongóis costumam ter uma certa simplicidade que minimiza a importância da linearidade, e privilegiam o detalhamento externo do gesto e imagem em seu palco devido à impossibilidade da língua de dizer tudo o quanto é preciso com o idioma.
E então a idéia que moverá o texto, seu assunto ou idéia central. Há duas formas disto surgir: você pensa no que quer dizer ou então te aparece na frente algo do qual não poderá fugir. De qualquer forma, isto agirá conforme um tema escolhido para tal, caso isto também não apareça junto do restante do pacote. O tema é inespecífico (pode ser “viagem”, por exemplo, ou violência urbana, embora neste caso ela possa ser mais do que o tema, se for aprofundado).
Especificar ambos é bom pois quando engripa e não sai nada, ajuda a recuperar a idéia inicial e desvendar caminhos do que queremos contar. Não é obrigatório, entretanto. Isto te guia e vai fazer a peça funcionar. Não a tempestade cerebral ou os seus cabelos brancos em criá-la. O tema NÃO IMPORTA. Ouse. Chute o pau da barraca. Tem que levar à beleza tragicômica, à falha do extremo. Despontar o Mithos. Botar o dedo na ferida.
E de onde vem a criação?
Mozart dizia que a inspiração para ele vinha como um soco, numa só porrada. E se matava em noites para passá-la para o papel antes que fugisse, de uma só vez, sem dormir ou comer.
Intermediário, o que Hermeto Pascoal faz é surreal quanto a inspiração. Ela é quase uma iluminação mística serena, um dom. Sem receber de um susto as composições, ele convive com aquele universo até que chega o momento onde ele permite ser levado ao mundano.
Já em outro extremo, “O mágico de Oz” tem uma estrutura que é racional, tem cara de que foi muito calculada e ainda assim tem todo o peso do mundo. E funciona.
Não importa como surge o mote que te arrasta ao criar, se é um iceberg que rebenta na sua frente ou o resultado de uma escolha ou necessidade acerca do que deve ser dito: Quando você está com o terreno arado para receber, seu pensar está conectado ao que o cerca para sacar o mundo em uma só frase, em um papel na rua, em uma conversa, o “CRIAR” já está presente. É o impulso, o soco de Callíope, um 7 numerológico. E, apenas depois de sugado o momento da criação, podemos nos preocupar com a ordenação eficaz da arte.
Lembrete: “Não adianta me ensinar (Racional), eu é que tenho que aprender (iluminado)”
O eficaz é racional. O criado não. Cada qual tem seu papel no momento criativo, e um não pode ferir o que o outro traz. A coerência, a correta pontuação e escolha de palavras para tornar à prova de más interpretações, tudo isso aparece no momento posterior ao do surgimento da imagem que vamos passar ao palco, nesta visão do processo dramatúrgico.
Assim, a preocupação com a profundidade do tema torna-se irrelevante. Conte a mais simples história tribal. Se ela trouxer a conexão com o que a cerca, se a linguagem for afiada, se o seu cerne criativo, não importa como tenha vindo, cumpre com o que despontou como essência da história, o “Mithos”. Desencana de salvar o mundo ou de dar o melhor e mais original tema do planeta. Ele não precisa ser absurdamente rico, ou complexo. No fim das contas, tudo se reduz ao tenebroso “E DAÍ?”. Então, relaxa. Deixa sair algo do seu objetivo. E mais, entregar-se. Dar-se ao texto, à carpintaria da peça, e você se doar a ela. E taca a lata de lixo do teu lado. Lembre-se: é a punheta que te faz aprender a trepar. Dedicai-vos. Tire o Davi daquele monte de mármore, se entregue ao pesado.
E quando menos esperar, sua historinha tribal se torna “Édipo Rei”.


Ricardo Avarih é biólogo, ator e dramaturgo.
 
posted by SuperNova at 21:49 |
09 abril, 2006
A conversa girou em torno da função de uma obra de arte na sociedade. Johnny Kagyn, Alissandra Rocha e Claudio Rosa começaram a conversa partindo de uma frase de Bertold Brecht dita por Paul Haggis no discurso de agradecimento pelo prêmio de melhor roteiro original por “Crash – No limite”. A frase diz que a arte é um martelo com poderes e funções modificadoras da sociedade.

Johnny Kagyn: Como artista gostaria que fosse possível ser Martelo. Mas poucas obras têm esse poder de transformar, moldar uma sociedade. E quando o faz, é pessoal, modifica um indivíduo e não um coletivo. A maioria das obras são espelhos e fazem refletir.

Alissandra Rocha: Para uma obra “mexer” na sociedade, modifica-la, ela (a obra) deve tocar no código moral dessa sociedade, na tradição, posto que a vida em sociedade seja permeada por essas leis morais.

Claudio Rosa: Mas quando a gente diz espelho, mostrando e fazendo o receptor refletir, isso já não um martelo?

ARocha: Não é só a reflexão, é fazer a modificação também.

JKagyn: Veja o exemplo de Brecht: O que é o Teatro Épico? Brecht queria que o público assistisse, pensasse, usando a razão, para modificar. No nosso teatro “tradicional”, você faz o espectador sentir, purgar.. O teatro dramático não necessariamente faz o espectador agir, e sim purgar, se aliviar e se sentir diferente.

CRosa: Hoje? Qual é a necessidade da sociedade? Ter um espelho ou um martelo?

JKagyn: Eu acho que a necessidade, não é da sociedade e sim do artista. Mas vamos tomar o Romantismo como exemplo de transformação social. A nossa educação e a cultura ocidental são basicamente doutrinadas pelo pensamento romantinco, e quando digo isto não estou só me referindo ao amor romantico... O Romantismo (literatura, pintura, a música, filosofia..). modificou inteiramente a sociedade ocidental, e não só daquele período. Ou seja, foi martelo. Mas e vc Claudio, qual sua necessidade como artista?

CRosa: Passa desde de uma necessidade egoista, de querer expressar o que está dentro de mim. Mas ainda não há definição pra mim, do que é ser espelho e do que é ser martelo.

JKagyn: Por exemplo: Ricardo III espelha a maldade em cada um de nós. Mas vc purga isso, libera... A peças reflete o que somos, e nos dá um controle social, porque vc purga e se sente um cidadão melhor. Martelo, te faz pensar e agir na sociedade. Mesmo que não seja uma grande mudança social, mas que o receptor da obra se modifique. A minha necessidade é mista. No sentido de que, eu quero modificar o indivíduo. A sociedade é uma consequência maior... Fazer aquela pessoa pensar algo que ela nem pensavam, sentir algo que não sabia que podia sentir. Assim como Brecht, não me agrada levar a pessoa a um pensamento, manipula-la para chegar a uma conclusão exposta. O meu desejo é fazer pensar e sentir, e a partir daí deixar que a pessoa tome sua decisão, chegue a sua própria conclusão.

CRosa: Apontar e modificar. Vai de quem recebe a obra.

ARocha: Gostaria de ser Martelo. Gostaria de poder sim transformar uma dada sociedade. Mas entendo que é utópico, não porque a arte não dê conta disso, mas porque eu não acho que sozinha conseguiria fazer isso. Teriam que existir conjunturas favoráveis para a inserção de uma arte transformadora.

JKagyn: Acho que o teatro não é a melhor forma de modificar a sociedade. Vide Brecht. Ele escreveu coisas ótimas sobre uma sociedade, queria modifica-la, mas a sociedade alemã não se modificou em absolutamente nada, nenhuma sociedade se modificou com suas peças. Ao lutar contra o Capitalismo massificante, ao mesmo tempo, não enxergou o que acontecia no seu quintal, o crescimento da Alemanha nazista. Suas peças sobre o nazismo são posteriores ao que aconteceu, e ironicamente foram escritas nos EUA.

CRosa: Mas é inevitável o artista querer a mudança social?

JKagyn: Eu não quero. Não acredito numa mudança, como a Alissandra disse, É utópico!

CRosa: Mas se você coloca a obra na sociedade, vc já está modificando. Agora, grande atos, causar comoção...são outras coisas.

ARocha: Mas eu não acho que as modificações sociais acontecem com grandes atos, ou coisas grandiosas causando comoção geral... é a modificação ética que conta, indivíduo por indivíduo, modificando seu olhar sobre o seu meio. Observando e agindo.

JKagyn: Vamos pegar as obras máximas: gregos e seu conjunto de artes: modificaram. Shakespere... Eu quando assiti Shakespeare saí modificado.

ARocha: Mas não acredito que todos os que tiveram contato com Shakespere se modificaram. Podem ter se emocionado pela identificação, mas não agiram modificando-se ou modificando seu meio. Talvez o conceito de martelo e espelho, esteja no receptor. O que ele faz com aquilo que recebe. Shakespeare era ele próprio um espelho da sociedade em transformação, não foi sua obra o agente modifcador. Era ele também modificado pelo contexto social. A sociedade em que sua obra foi composta já estava em transformação e ele também participava de algo maior.

JKagyn: Então a arte é só uma parte do martelo e não o martelo em si?

ARocha: Mas também me pergunto se a arte dos gregos ( filosofia, teatro, arquitetura... ) nos transformou pela funcionalidade dela na sociedade. Se modificou todo um modo de lidar com o mundo é porque tinha uma função social.

CRosa: E a semana de 22? Martelo?

ARocha: Uma das partes do Martelo. Existiam outros aspectos a se considerar para que a Semana de 22 tivesse a visibilidade que teve.

JKagyn: Cenário Político, cultural e social, outras partes do martelo. Mas não acho que a Semana de 22 tenha sida uma ruptura com o que já existia ou uma “mudança”, foi apenas uma adequeção da arte aos conceitos já em desenvolvimento. Não ouve modificação social.

CRosa: Por exemplo, o que existe hoje em dia em São Paulo, a Virada Cultural. É uma mudança social.

JKagyn: Mas não tem nada a ver com cultura. É entretenimento. Não muda nada. A intenção de um evento como a Virada Cultural é de levar intretenimento ao povo. Não tem o viés ideologico de ser agente de transformação. Cada obra artistica que participa até pode ter esta intenção, mas o evento como conjunto não tem esta intenção.

Conclusão Aberta
A arte tem sim o poder de modificar, mas é apenas parte de um grande martelo. As mudanças acontecem “também” pela arte, mas não única e exclusivamente por ela.
 
posted by SuperNova at 14:09 |
05 abril, 2006
II MOSTRA DE LEITURAS DRAMÁTICAS DO SUPERNOVA COLETIVO DE DRAMATURGOS (Especial Projeto Colheita)



Peça: Da Criação da Cena
Autor: Claudio Rosa
Direção: Alissandra Rocha
Atores: Ricardo Avarih; Evando Lustosa; Márcia Nestardo; Fernanda Sanches.
Duração: Aproximadamente 40 minutos

Sinopse: A partir da distração do dramaturgo com um comercial de TV, personagens de sua peça se rebelam e expõem todo o pensamento do dramaturgo no momento da criação de sua obra.

DATA: 09/04/2006 ( DOMINGO )
HORA: 19h00mins
Local: Cia. Das Artes – Rua Domingos de Morais nº1497 (em frente ao metrô Vila Mariana)
ENTRADA GRATUITA


 
posted by SuperNova at 01:56 |
02 abril, 2006
Nesta primeira fase do Projeto Colheita, estou desenvolvendo dois papéis: Diretora e Produtora. Funções que aos olhos de muitos são exatamente a mesma coisa; de outros tantos, esses dois seres são totalmente antagônicos: O Diretor é o rato e o Produtor é o gato.

Antes de me embrenhar nesta segunda função, a de Produtora, eu também tinha uma visão equivocada da real necessidade de um Produtor num espetáculo. Entendia que o Diretor, responsável pela concepção estética, pelo processo de aprofundamento do texto, pelo desenvolvimento de uma visão global do espetáculo, era em si o responsável também por botar a peça em cartaz, por conseguir a realização total do espetáculo.
Hoje entendo que se o Diretor se coloca como o “manda-chuva” do processo de viabilização do espetáculo, teremos algo muito comum hoje em dia no Brasil: Diretor que não dirige, e Produtor que não produz.
O que ocorre neste caso é que o Diretor se sente sufocado pelo ritmo frenético de elaboração de projeto para patrocinadores, leis de fomento, fechamento de espaços para apresentações, venda de espetáculo, etc, coisa que o Diretor realmente não deve se preocupar. E os produtores por sua vez, não tendo respostas práticas e precisas dos Diretores sobre cenário, figurino, iluminação, enfim, a visão estética em si, ficam de mãos atadas e acabam vendendo um espetáculo que nem eles, os produtores, sabem do que realmente se trata.

Aí está o embrólho!

Não somos tão antagônicos assim, mas também somos seres distintos apenas por nossas funções distintas, por isso não há motivo para perseguição, muito menos tempo suficiente para brincarmos de mocinho e bandido. Diretores e Produtores da Brasil, UNI-VOS!
 
posted by Alissandra Rocha at 09:33 |