30 outubro, 2006
A idéia central é (ou deveria ser) o motor de qualquer obra artística autoral. Entretanto é comum verificar que muitos trabalhos artísticos não estão fundamentados em uma idéia central. Mas afinal o que seria esta tal “idéia central”?
A idéia central nada mais é do que a opinião que o autor tem sobre determinado tema, fato, e etc.. Embora a idéia central seja o pilar da construção dramaturgica, ela não é necessariamente de responsabilidade do dramaturgo, e neste ponto é importante colocar de forma explicita que:

*A idéia central é de responsabilidade do autor, mas também pode ser herdada de outro autor, ou ainda atribuída a ele por um autor sem capacidades dramaturgicas.
*O dramaturgo é o responsável por dar estrutura dramática a idéias próprias, alheias ou prontas – que são idéias mais populares e de uso comum tais como: “o amor supera todos os desafios”, “o crime não compensa” e etc..

Portanto, o autor de teatro deve ser dramaturgo - ou associar-se a um, já o dramaturgo não precisa necessariamente ser autor.
Colocada a diferenciação entre autor e dramaturgo ressaltamos que trataremos aqui da idéia central como elemento de estruturação de uma peça – ou seja, no que toca primordialmente ao dramaturgo.

Como motor da estruturação de uma peça a idéia central exige: concisão, clareza e sustentabilidade. Para o autor, a priori, a idéia central é livre de exigências; Para o dramaturgo uma idéia central deve conter estas características, pois só assim a estruturação dramática poderá ser plena.
Concisão: É a qualidade de ser sintético na expressão da idéia. Uma idéia central prolixa cria confusões de desenvolvimento e coloca em risco sua vocação dramática.
Clareza: Se reduzida for a capacidade de articulação e compreensão da idéia, reduzida também será a capacidade da peça na comunicação de suas intenções. Portanto, quando da escolha ou formulação da idéia central, deve-se avaliar qual o alcance e se será compreensível e aplicável numa estrutura dramática.
Sustentabilidade: Existem idéias centrais que não rendem mais do que uma cena. Existem idéias centrais que são na verdade “subidéias”, subprodutos de uma idéia maior e que poderia ser mais bem aproveitada uma vez descoberta. Assim como existem idéias que não se sustentam na empírica dramática. Muitas destas idéias podem ser aproveitadas em outras plataformas e/ou adaptadas para a finalidade dramática. A idéia central que serve a um poema, livro (seja romance ou técnico), música, artes plásticas e etc., não serve necessariamente a uma estrutura dramática (peça, filme, etc.)
Fica claro que os três itens estão interligados e enquadram-se todos na expressão “vocação dramática”. Mas como identificar a vocação dramática de uma idéia central?
A óbvia análise dos três itens é um recurso, porém parece-me que é fundamental uma vivencia global (leitura, teatro, cinema) com a arte dramática. As artes dramáticas não têm como fim a folha de papel e, portanto esta vivência dará arcabouço crítico e sensorial para a formação de um dramaturgo.

A idéia central é a opinião sobre um tema especifico ou uma opinião genérica sobre um tema amplo, como por exemplo, a existência. É importante que a idéia central esteja munida de um argumento sólido (que será demonstrado durante a peça), pois este argumento se desdobrará em um conjunto de “subidéias” que cena a cena, através do acumulo e interligação, se revelarão na crise da peça como parte de uma idéia única, a idéia central. Contribuem para a solidez da idéia central o: domínio do tema, a pesquisa profunda, e a clareza de conceituação da opinião expressa.

É importante frisar que a idéia central “deve ser” o primeiro e principal fator estruturante de um trabalho dramático. Frequentemente isso é ignorado e subvertido.
Existe uma idéia corrente que se deve escrever para uma boa história, uma boa personagem, uma boa idéia de efeitos... Deve-se escrever apenas para “uma boa idéia central”. E o que é uma boa idéia central? É aquela que além de reunir todos os atributos já mencionados seja também dotada de uma opinião autoral articulada (argumentos que tornem esta idéia central sustentável e atraente).

A idéia central é o elemento que dá base aos demais recursos estruturantes de uma peça: AÇÃO PRESENTE, PROTAGONISTA, ENREDO, AÇÃO CENTRAL, CRISE e etc. Portanto, antes de dar qualquer passo na construção de uma estrutura dramática, a idéia central deve ser/estar sólida na base da pirâmide estruturante.


 
posted by Johnny Kagyn at 19:17 |