26 março, 2006

“Nenhuma e todas. Idéias, eu tenho um monte”. Esta é a resposta de Claudio Rosa ao ser questionado qual será seu próximo texto teatral. Homem de poucas palavras, Claudio canaliza toda a sua inquietação para a produção de textos teatrais que, por enquanto, não se classificam facilmente num só gênero teatral.
Claudio, 25 anos, estudou Letras na Fundação Santo André. Apaixonado por literatura, escreve poesias desde os 12 anos. Agora ele mergulha nos estudos e na prática da dramaturgia, influenciado pela paixão que vê na esposa, Alissandra Rocha (atriz, dramaturga e diretora), pelo teatro. Seu texto “Da Criação da Cena" é um dos que compõem o Projeto Colheita, do SuperNova Coletivo de Dramaturgos, que pretende levar ao palco a montagem de dois textos, em julho deste ano.

SuperNova
– Você pode começar falando de seu interesse por arte.

Claudio Rosa
O meu interesse por arte começou na literatura, desde os 12 anos de idade. Sempre me interessei pela poesia. Participei de alguns concursos de poesias. Em 2004 comecei a fazer poesias de cunho social. E desde 2005, com a proposta do SuperNova, passei a me interessar por teatro. O resultado deste contato resultou no texto “Da Criação da Cena” (um dos textos em fase de montagem dentro do Projeto Colheita - Do Dramaturgar ao Teatrar).


SuperNova
– Como está sendo a sua adaptação à dramaturgia?


Claudio Rosa
Gratificante. Estou colhendo frutos mais rápido. Os resultados são mais imediatos, os estudos são mais direcionados. Por outro lado este período é frustrante porque não encontrei na literatura o mesmo ritmo. O teatro é mais aconchegante.


SuperNova
– Tecnicamente, como foi esta transição?

Claudio Rosa – Primeiro eu tive que esquecer a forma como eu criava na literatura. Depois precisei me ater a regras que não tinha conhecimento. A dramaturgia é outra forma de construção. É preciso saber que aquilo que se escreve estará vivo, na boca de alguém. Ao mesmo tempo em que é gratificante, é difícil também.

SuperNova
– A sua esposa, Alissandra Rocha, é de teatro. Você se sentiu influenciado ou pressionado pelo fato de estar com uma artista de teatro?


Claudio Rosa
– Procuro não pensar nisso várias vezes. Não me sinto pressionado. Tenho contato com as coisas que ela faz e vê no teatro.


SuperNova
– Mas ela lhe influenciou?


Claudio Rosa
– Eu fico encantado e apaixonado ao ver a paixão dela pelo teatro.


SuperNova
– O que o conhecimento nas outras formas narrativas influenciou no seu trabalho em teatro? Você teve que adaptar o que já sabia para escrever para teatro?


Claudio Rosa
– Vou responder falando da primeira peça que escrevi: “Bi-Vazio” (2005). Apresentei o texto e disse: “falem se isto é uma peça”. Não vou nem falar o que o Johnny (Kagyn) disse e que acabou comigo (risos). Na realidade havia um diálogo entre duas personagens. Eu achava que por ser diálogo era teatro. E não era. Percebi que faltava ação cênica. Foi quando percebi que não poderia simplesmente levar a literatura para o teatro.


SuperNova
– Você tinha algum preconceito em relação ao teatro? Se tinha, como você o vê hoje?


Claudio Rosa
– Eu achava que texto poderia ser adaptado ao teatro. É mentira. Não dá para pegar um conto do Voltaire e transpor para a dramaturgia. Ao transpor, o conto já não é mais a mesma coisa. E o texto literário não pode ser a mesma coisa que um texto que foi escrito especialmente para o teatro.


SuperNova
– Que outro preconceito?


Claudio Rosa
– Quando não temos contato próximo, achamos que os artistas estão divagando, alheios à realidade. Hoje tenho outros conceitos dentro do teatro e criei aversão a certas coisas.


SuperNova
– O que, por exemplo?


Claudio Rosa
– A falta de comprometimento. Não adianta nada uma pessoa dizer que ama o teatro e não mostrar comprometimento.


SuperNova
– No teatro, o que lhe dá vontade de continuar?


Claudio Rosa
– Eu pensei que era fácil de fazer e não é. O que me move a fazer é a vontade de aprender. Tenho interesse em escrever, dirigir e, em último lugar, atuar. Quero um dia olhar uma peça e saber que ela é redondinha, que é dramaturgia. Que ninguém olhe e diga “é literatura!”. Quero que os textos tenham uma estrutura legal e coerência.


SuperNova
– No workshop com os atores do SuperNova você participou intensamente. Isto mexeu com você, no seu trabalho de dramaturgo?


Claudio Rosa
– O que a prática dos exercício de atores influenciou no dramaturgo? Nada. Mas a experiência me despertou o interesse em conhecer o trabalho do ator, que tem que ter corpo disponível para o teatro.


SuperNova
– Você agora está trabalhando como assistente de direção. Que está achando desta experiência?


Claudio Rosa
– Estou vendo como um diretor inicia um processo para dar vida ao texto dramatúrgico. Estou tentando separar bem as funções. Nos ensaios eu sou um aprendiz e assistente de direção.


SuperNova
– Há alguma temática que lhe interessa abordar com mais freqüência em seus textos?


Claudio Rosa
– Quero cutucar mais o lado social no teatro. Quero mexer nas feridas das questões sociais. Enquanto eu ver uma pessoa no meio da rua vou me inspirar a escrever sobre estes assuntos.


SuperNova
– Então o texto “Da Criação da Cena”, por fazer meta-teatro, é um caso isolado deste seu interesse?


Claudio Rosa
– “Da Criação da Cena” é um divisor de águas. Foi uma forma de abrir caminho para abordar outras questões como as sociais.


SuperNova
– Quais são os seus modelos?


Claudio Rosa
– Plínio Marcos e Denise Stoklos. O que gosto na obra do Plínio é a maneira verdadeira como ele coloca as situações. Sentimos vida no texto dele. Quanto a Denise, o que me agrada é maneira como ela atinge o público. O trabalho dela tem cunho social.


SuperNova
– Há um gênero onde você sente que aprofundará o seu trabalho?


Claudio Rosa
– Não, não há.


SuperNova
– Seus textos não são fáceis de enquadrar em um gênero?


Claudio Rosa
– No meu caso esta indefinição existe porque estou em processo de desenvolvimento. Tenho certeza que no aprofundamento dos estudos vou tender para um lado.


SuperNova
– E como andam os estudos em dramaturgia?


Claudio Rosa
– Acabei de ler “A Dança Final”, de Plínio Marcos. Estou na metade da leitura de “Seis Personagens em Busca de um Dramaturgo”, de Pirandello.


SuperNova
– Qual a sua próxima peça?


Claudio Rosa
– Nenhuma e todas. Idéias, eu tenho um monte.

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posted by SuperNova at 09:15 |
19 março, 2006
Olhe para si e para o caminho que o trouxe até aqui. É um caminho longo, curto? Não importa a extensão o que lhe trouxe até aqui foram sonhos. Sonhos íntimos. Sonhos inconfessáveis. Sonhos. Olhe para si e veja apenas você mesmo. Seus olhos, seu caminhar, a maneira como seus braços balançam. Seus medos, seus erros, o que te fez chorar. Este é você, o ator.

Agora sem deixar de enxergar a si próprio, responda: o quanto você está disponível a mostrar deste corpo, desta alma e desta mente? Pouco, muito?
Agora, considerando-se apenas ator e não mais ser humano, olhe para si como instrumento.
Olhe clinicamente para cada parte deste instrumento. Analise impiedosamente tudo.
A única pessoa a quem você não deve enganar é a si mesmo. Liste suas virtudes. Liste suas imperfeições. Seja impiedoso consigo mesmo.
Enxergue-se como o seu próprio inimigo. Aquele a quem você deve vencer, superar e subjugar. Quanto você está disposto a subjugar de si mesmo?

Ser ator exige uma busca e uma luta constante dentro de si mesmo. Exige que se seja sincero. Exige disponibilidade para se expor. Exige coragem para ver suas imperfeições e livrar-se de suas máscaras sociais.
Você está disposto?

Trabalhe!
Trabalhe para vencer seus automatismos, suas idiossincrasias, seus limites e seus domínios.
Trabalhe para criar a personagem. Trabalhe para destruir-se.
Esteja disponível para o erro. Busque o acerto.
Agora pare.

Deste ponto em diante lhe será exigida a disponibilidade.
Deste ponto em diante lhe será exigida a vulnerabilidade verdadeira.
E apenas você pode verdadeiramente fazer estas exigências.
Leve em consideração que ir além deste ponto pode significar destruir-se dolorosamente; e continuar neste ponto vai significar acomodar-se no seu confortável nível atual.
Por você só você mesmo deve decidir.


Johnny Kagyn
kagyn@msn.com
http://infinitoparticular.blogspot.com/


NO PRÓXIMO DOMINGO:
Entrevista com o dramaturgo Claudio Rosa e artigo assinado pelo ator, diretor, músico e dramaturgo Fábio Pinheiro. Não percam!


 
posted by Johnny Kagyn at 03:48 |