26 agosto, 2007
Um pôr-de-sol vermelho na janela do meu apartamento, como há muito tempo eu não via. Pra ser mais exata há quase um ano eu não vejo o céu em chamas assim. E esse calor transpirante e inspirador então....
Pensei que pudesse ser a quase chegada da primavera, minha estação preferida, ou até mesmo um desvio de conduta do planeta pra acalmar meus dias de frio, de olhos cerrados e criatividade congelada.
Parei de olhar a tela branca indiferente, e fui a janela. Então eu vi! Novamente a explosão... a onda de calor, a expansão do ar em minha direção, lançando particulas em fagulhas, pó estelar com cheiro de novidade!
BOOM!
A nossa respeitável SuperNova lança mais um sinal de vida, mais uma chama, mais uma descarga de renovação... e no horizonte vejo sair ilesa Phoenix, a ave em chamas, se refazendo, se reconjuntando e nos unindo novamente.
Ela pousa no parapeito da janela, olha em meus olhos e penso vê-la sorrir... mas foi minha imagem quem sorriu no vidro da janela fechada.
Faltava apenas abrir o vidro. E aceitei, fiz!
Respirar pó de estrela me faz bem, me recompõe, pois é disso que somos feitos. Que haja mais 1000 anos de explosões estelares, mais 1000 SuperNovas entrando e colapso perto de nós, assim saberemos que continuaremos existindo!
Obrigada Johnny Kagyn pelo seu impulso em águas muitas vezes calmas.
Obrigada Claudio Rosa pela mão que não me deixa afundar em águas profundas.
Obrigada Phoenix por me visitar de vez em quando!
Alissandra Rocha
 
posted by Alissandra Rocha at 18:03 |
30 outubro, 2006
A idéia central é (ou deveria ser) o motor de qualquer obra artística autoral. Entretanto é comum verificar que muitos trabalhos artísticos não estão fundamentados em uma idéia central. Mas afinal o que seria esta tal “idéia central”?
A idéia central nada mais é do que a opinião que o autor tem sobre determinado tema, fato, e etc.. Embora a idéia central seja o pilar da construção dramaturgica, ela não é necessariamente de responsabilidade do dramaturgo, e neste ponto é importante colocar de forma explicita que:

*A idéia central é de responsabilidade do autor, mas também pode ser herdada de outro autor, ou ainda atribuída a ele por um autor sem capacidades dramaturgicas.
*O dramaturgo é o responsável por dar estrutura dramática a idéias próprias, alheias ou prontas – que são idéias mais populares e de uso comum tais como: “o amor supera todos os desafios”, “o crime não compensa” e etc..

Portanto, o autor de teatro deve ser dramaturgo - ou associar-se a um, já o dramaturgo não precisa necessariamente ser autor.
Colocada a diferenciação entre autor e dramaturgo ressaltamos que trataremos aqui da idéia central como elemento de estruturação de uma peça – ou seja, no que toca primordialmente ao dramaturgo.

Como motor da estruturação de uma peça a idéia central exige: concisão, clareza e sustentabilidade. Para o autor, a priori, a idéia central é livre de exigências; Para o dramaturgo uma idéia central deve conter estas características, pois só assim a estruturação dramática poderá ser plena.
Concisão: É a qualidade de ser sintético na expressão da idéia. Uma idéia central prolixa cria confusões de desenvolvimento e coloca em risco sua vocação dramática.
Clareza: Se reduzida for a capacidade de articulação e compreensão da idéia, reduzida também será a capacidade da peça na comunicação de suas intenções. Portanto, quando da escolha ou formulação da idéia central, deve-se avaliar qual o alcance e se será compreensível e aplicável numa estrutura dramática.
Sustentabilidade: Existem idéias centrais que não rendem mais do que uma cena. Existem idéias centrais que são na verdade “subidéias”, subprodutos de uma idéia maior e que poderia ser mais bem aproveitada uma vez descoberta. Assim como existem idéias que não se sustentam na empírica dramática. Muitas destas idéias podem ser aproveitadas em outras plataformas e/ou adaptadas para a finalidade dramática. A idéia central que serve a um poema, livro (seja romance ou técnico), música, artes plásticas e etc., não serve necessariamente a uma estrutura dramática (peça, filme, etc.)
Fica claro que os três itens estão interligados e enquadram-se todos na expressão “vocação dramática”. Mas como identificar a vocação dramática de uma idéia central?
A óbvia análise dos três itens é um recurso, porém parece-me que é fundamental uma vivencia global (leitura, teatro, cinema) com a arte dramática. As artes dramáticas não têm como fim a folha de papel e, portanto esta vivência dará arcabouço crítico e sensorial para a formação de um dramaturgo.

A idéia central é a opinião sobre um tema especifico ou uma opinião genérica sobre um tema amplo, como por exemplo, a existência. É importante que a idéia central esteja munida de um argumento sólido (que será demonstrado durante a peça), pois este argumento se desdobrará em um conjunto de “subidéias” que cena a cena, através do acumulo e interligação, se revelarão na crise da peça como parte de uma idéia única, a idéia central. Contribuem para a solidez da idéia central o: domínio do tema, a pesquisa profunda, e a clareza de conceituação da opinião expressa.

É importante frisar que a idéia central “deve ser” o primeiro e principal fator estruturante de um trabalho dramático. Frequentemente isso é ignorado e subvertido.
Existe uma idéia corrente que se deve escrever para uma boa história, uma boa personagem, uma boa idéia de efeitos... Deve-se escrever apenas para “uma boa idéia central”. E o que é uma boa idéia central? É aquela que além de reunir todos os atributos já mencionados seja também dotada de uma opinião autoral articulada (argumentos que tornem esta idéia central sustentável e atraente).

A idéia central é o elemento que dá base aos demais recursos estruturantes de uma peça: AÇÃO PRESENTE, PROTAGONISTA, ENREDO, AÇÃO CENTRAL, CRISE e etc. Portanto, antes de dar qualquer passo na construção de uma estrutura dramática, a idéia central deve ser/estar sólida na base da pirâmide estruturante.


 
posted by Johnny Kagyn at 19:17 |